Saia do automático

Raoni Sintra

Exercício de Respiração Abdominal

Podemos nos sentar em um local confortável, em uma almofada no chão ou em uma cadeira.

Mantemos as nossas costas retas e relaxamos todo nosso corpo.

Começamos a respirar e fazemos isso algumas vezes inspirando profundamente e soltando o ar pela boca como quem se livra de todas as tensões e pensamentos.

Em seguida vamos acalmando nossa respiração e presença: Inspirando nós trazemos o ar para a barriga, deixamos o peito descansar. Ao expirar sentimos a barriga descer e nosso corpo relaxar.

Nosso costume e tendência é de encher os pulmões e elevar o peito durante a respiração. Vamos transformar essa tendência. Ao inspirar e expirar, a musculatura do peito e os pulmões vão apenas descansar dessa vez. É nossa barriga que sobe e desce como se estivéssemos enchendo um balão de ar. Pode ser difícil no começo, mas conforme avançamos os músculos do abdômen se soltam e a respiração fica mais fácil e profunda.

Se ajudar, podemos repousar aos mãos sobre a barriga para sentir o movimento de subir e descer.

Podemos fazer isso por uns 10 minutos se tivermos tempo, mas é possível voltar a essa respiração abdominal sempre ao longo do dia, enquanto caminhamos, enquanto esperamos em uma fila ou lavamos a louça.

O importante é que esse exercício nos retira do processo automatizado de respirar e nos põe em contato conosco mesmo.

Quando pensamos em nossa respiração do ponto de vista puramente biológico, podemos ver que o processo respiratório automático foi um elemento essencial para a sobrevivência e desenvolvimento da espécie humana. Nossa capacidade de conseguir ar de maneira automatizada, rápida e em grande quantidade nos possibilitava energia em abundância para alimentar nossos músculos e aumentar nossa capacidade de fuga e luta.

Respirar para sobreviver.

Contudo, as condições mudaram de lá pra cá. Vivemos em um mundo onde contamos com grande grau de segurança e estabilidade. Não há mais predadores de quem fugir, não há mais lutas físicas por alimento e pela subsistência. Ainda assim, continuamos a respirar como se estivéssemos sempre prontos para correr ou nos defender. Respiramos apressadamente, de maneira superficial e ansiosa, como se o tempo todo houvesse um perigo à espreita. Fomos condicionados por nossa memória ancestral a nunca relaxar.

Precisamos redescobri como respirar. Precisamos aprender que há maneiras mais saudáveis de respirar que podemos oferecer a nós mesmos. A respiração consciente é esse caminho. Nós abandonamos o esquecimento e automatismo da nossa respiração e trazemos atenção ao processo. Respirando de forma consciente podemos nos fazer disponíveis a vida dentro e fora de nós de forma aberta e relaxante.

A respiração abdominal consciente nos permite viver plenamente e fazer de cada momento um momento de felicidade por si só e não a preparação para outra coisa. Podemos voltar a nós mesmos e perceber que os elementos de frescor e alegria já estão presentes. A prática da respiração abdominal envia um sinal claro ao nosso corpo e mente, de que está tudo bem, que temos tempo, que podemos diminuir o ritmo, que podemos enfim descansar. Tirar nossas respiração do peito de colocá-la no abdômen traz atenção ao ato de respirar, diminuindo a quantidade de ar que entra, tornando nossa respiração mais estável e vívida.

Um dia nós já soubemos como respirar pela barriga, quando no útero de nossas mães, perfeitamente seguros e cercados de amor. A memória do corpo se lembra e ao trazer a respiração para o abdômen uma paz natural e tranquila começa a se espalhar, o ritmo do pensamento diminuí, aquela familiar pressão no peito se dissipa.

Respiração abdominal pode nos trazer para o porto seguro de nossa própria presença. Nós não precisamos mais viver em constante ansiedade, na ponta dos pés, sempre prontos para nos defender. Finalmente não precisamos apenas sobreviver.

Podemos viver!

“Eu prometo apreciar cada minuto do dia que me foi dado para viver” Thich Nhat Hanh