De amor e de incômodo
Caroline Mello
Em uma manhã, sentada no sofá da sala da casa de uma amiga, começamos a conversar sobre as relações. De amor, de amizade, familiares. Essa conversa me fez pensar muito sobre o quanto comunicar (ou não comunicar), é o que está entre o um e o outro da relação.
A pergunta que ficou foi: o que será que faz com que a gente tenha tanta dificuldade de dizer sobre o que sentimos pra alguém que amamos?
Evidentemente, não cheguei a nenhuma resposta conclusiva, mas fiquei pensativa…
Quanto mais amamos ou mais nos aproximamos de alguém, a sensação que temos é de que mais difícil fica dizer sobre coisas que talvez não amemos tanto assim sobre ela, sobre algo incômodo e sobre a relação que estabelecemos juntas.
Isso de dizer sobre o que está desagradável nas nossas relações, tende a ser um desafio. Não à toa podemos ouvir sempre por aí um: “detesto discutir a relação, vou deixar pra lá”.
Porém, em muitos casos, esse deixar pra lá do dialogar, com o tempo, vai se tornando o deixar pra lá da relação e aquele laço (seja ele de amizade, amor, familiar), que inicialmente seria de cumplicidade e pleno de possibilidades, agarra, vira nó e pode até arrebentar.
Há muitos afetos em jogo nas nossas relações, isso não podemos negar. E é por isso mesmo que as nossas relações nos sensibilizam tanto. Me parece que o “não vou discutir” vem acompanhado de um certo receio de que alguma coisa se quebre ou se perca. Não que ter esse receio seja ruim, pelo menos não a princípio. O medo de magoar alguém, de perder aquela amizade ou aquela relação amorosa, demonstra que aquele vínculo é valioso pra nós. E se é valioso, deve ser cuidado.
Mas vejam bem… se acreditamos que devemos calar e ceder dos nossos limites para manter uma relação com alguém, qual o tipo de relação estaremos criando? Como é que se faz um vínculo com alguém se, na hora de falar sobre esse vínculo sentimos um impedimento?
Se escondemos ou cedemos do que sentimos diante do outro, esse alguém na nossa vida certamente vai estar se posicionando na relação de acordo com aquilo que ele supõe que seja ou ainda se relacionará com alguém que não é você, afinal de contas, você também está naquilo que você tenta esconder. E quer coisa mais frágil e frustrante do que isso?
O que estou trazendo aqui para pensarmos juntos, não é fazer o mesmo que cantou Cazuza e, de repente, disparar uma metralhadora cheia de mágoas. Afinal de contas, já falei aqui que tudo o que é valioso pra nós, exige cuidado. E, nesse caso de colocar inclusive o sentimento não tão legal assim na mesa das nossas relações, o cuidado com as palavras, com o jeito de falar, com o tom de voz é essencial.
Quando se trata de pessoas, absolutamente nada é óbvio! E, ainda que você acredite que seja e se posicione como: “ele/ela deveria saber”, nesse campo, minha gente, o óbvio também precisa ser dito.
Até a próxima,
Carol.


Psicologia
Comunicação e
Desenvolvimento Humano