Confiar na Respiração

Raoni Sintra

Quando grandes conflitos surgem, quando emoções dolorosas tomam conta de nós, muitas vezes nos vemos perdidos.

Todas as teorias, todas as técnicas que aprendemos, todas as crenças podem nos abandonar quando uma emoção avassaladora aparece. Nossas melhores intenções, nossas crenças humanas mais belas são nubladas e nos vemos desamparados em meio ao medo, ao desespero ou a dor.

Contudo, há um amigo íntimo em quem podemos confiar para nos trazer de volta para a paz dentro de nós. Temos um recurso que está sempre conosco e nunca nos falta: nossa própria respiração.

Precisamos aprender a nos reconectar com nossa respiração e reencontrar a sabedoria do nosso próprio corpo. Esta ferramenta esta sempre disponível, sempre aqui como um amigo precioso, que entretanto, não damos a devida atenção.

Pare um instante agora e observe sua respiração.

Provavelmente perceberá que sua respiração é rasa e ansiosa, abafada por uma avalanche de pensamento acelerados. O peito dói, o ar parece faltar. Desaprendemos a respirar, desaprendemos a repousar para encontrar a nós mesmos.

A busca por nos tornarmos pessoas melhores, com mais compreensão, paciência, felicidade e amorosidade é uma busca nobre. Mas trata-se de uma prática para tempos de paz. Se não tivermos realmente interiorizado essas práticas em nós, elas não nos serão muito úteis quando realmente precisarmos.

Quando uma tempestade surge, as árvores estão seguras pela força de suas raízes. Elas não se refugiam em seus galhos ou frutos, elas se apoiam na solidez de sua presença imóvel até que os ventos se acalmem.

Nós também podemos ser assim. Os ventos de tempestades emocionais como a raiva, o medo e a perda podem soprar nossas melhores crenças, éticas e intenção, mas não podem arrancar nossa presença. Nossa raiz está em nossa respiração. Podemos nos sentar e respirar enquanto as emoções sopram e bufam. Até que elas passem. E elas sempre passam.

Se você puder se refugiar em sua respiração quando for ofendido, desafiado, mal compreendido, você encontrará um lugar de segurança de onde ninguém terá o poder de te remover.

Na lucidez e calmaria pós tempestade, podemos nos reconectar com nossos valores e crenças e usá-los para agir da melhor forma para transformar a situação presente. Mas nunca dentro da tempestade. Dentro dela, o nosso local é estar em contato com nossas raízes de solidez e estabilidade.

Com nossa Respiração.

Não precisamos reagir instantaneamente. Nós podemos esperar e nos curar da raiva e do sofrimento antes de agir. Isso nos dará a liberdade e sabedoria necessária para não ser reféns de nossas próprias emoções. A respiração consciente nos põe em posição de reconhecer e acolher nossas dores e dissabores, nossos medos e perdas como uma mãe acolheria um filho pequeno que ameaça por o dedo na tomada. Sem precisar oprimir nossas emoções, mas sem deixar que delas nos conduzam a um caminho de autodestruição.

Quando começamos a aprender a arte de respirar e deixar que nossa respiração nos traga de volta para casa, para nosso corpo, começamos também a perceber a íntima ligação entre nossa respiração superficial com nosso excesso de pensamento, com nossos passos acelerados, com nosso constante stress e canseira.

Toda inabilidade de lidar com nosso sofrimento surge da nossa desconexão. Somente nós mesmos podemos cuidar de nossas dores e angustias. Ninguém mais. Contudo, como podemos fazer isso se nunca tem ninguém em casa? Se nunca estamos onde nossos pés estão, onde nossa respiração está?

Aprender a respirar é aprender a arte de estar presente pra si mesmo, para oferecer a seu corpo e mente o carinho e o cuidado. Aprender a confiar na sabedoria natural de seu corpo e descobrir a liberdade das emoções e pensamentos.

Que tal aprender a refazer a amizade com nossa Respiração?

“Sentimentos vêm e vão como nuvens num céu tempestuoso. Respiração Consciente é a minha âncora” Thich Nhat Hanh